Tragados pelo Silêncio: Trabalhadores e Dados que Desaparecem em Silos

O trabalho em silos e armazéns de grãos está entre as atividades mais perigosas no Brasil, sendo responsável por um número alarmante de mortes todos os anos.
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O trabalho em silos e armazéns de grãos está entre as atividades mais perigosas no Brasil, sendo responsável por um número alarmante de mortes todos os anos. Um dos riscos mais graves e comuns nesses ambientes é o engolfamento, um fenômeno trágico que ocorre quando um trabalhador é subitamente envolto por toneladas de grãos, muitas vezes com consequências fatais. Com o aumento das safras de grãos e o Brasil se tornando líder mundial na produção de soja, o número de vítimas tende a aumentar, visto que em termos tecnológicos, ainda estamos muito atrasados.

O Que é Engolfamento?

O engolfamento acontece quando se forma um espaço vazio sob uma camada de grãos em um silo ou armazém. Quando um trabalhador pisa sobre essa camada instável, ele pode ser rapidamente “engolido” pelos grãos que se movem, enterrando-o completamente em questão de segundos. Dada a natureza do material e o peso esmagador dos grãos, as chances de sobrevivência nesse tipo de acidente são extremamente baixas. de acordo com dados do ministério do trabalho, em 60% dos acidentes com mortes em ambiente fechado, morre também o resgatista ou socorrista.

Onde Acontecem Esses Acidentes?

Esses acidentes ocorrem principalmente em silos e armazéns de grãos, onde a prática de caminhar sobre a massa de grãos para verificar o volume interno ainda é comum. Embora essa prática seja proibida pela Occupational Safety and Health Administration (OSHA) nos Estados Unidos, ela continua a ser uma realidade no Brasil, mesmo com a existência de tecnologias que poderiam substituir essa verificação manual e perigosa.

A falta de informações precisas torna difícil estimar o número exato de mortes em silos. No Brasil, as estatísticas oficiais sobre esses acidentes são escassas, pois os dados são coletados com base em notificações feitas pelos empregadores ao Ministério da Previdência Social. No entanto, o formulário utilizado não possui um código específico para armazéns agrícolas, agrupando-os em uma categoria mais ampla de “depósitos fixos”. Como resultado, muitos incidentes fatais podem não ser devidamente contabilizados.

Além disso, a metodologia empregada para coletar dados, que depende de informações disponíveis em sites de busca, jornais locais e mídias sociais, provavelmente leva a uma subestimação significativa. Muitas mortes não são divulgadas publicamente, o que impede uma compreensão completa do impacto dessas tragédias.

Outro fator que contribui para a subestimação de acidentes é a gestão das Permissões de Entrada e Trabalho (PET), conforme estipulado pela NR-33. Esse método tradicional, embora amplamente utilizado, tornou-se obsoleto e apresenta várias limitações. A natureza física do papel não apenas facilita a deterioração e a perda de registros importantes, mas também compromete a integridade das informações. Essa fragilidade no sistema dificulta a atribuição de responsabilidades em casos de acidentes. Esses fatores ressaltam a urgência de modernizar e digitalizar os processos de registro e fiscalização, visando garantir maior transparência e eficácia na prevenção de acidentes em ambientes de risco elevado.

O Que Pode Ser Feito para Evitar Essas Mortes?

Para prevenir esses acidentes fatais,é uma abordagem multifatorial, que engloba algumas etapas simples. Primeiro, o treinamento adequado dos trabalhadores é fundamental, pois é preciso conhecer os riscos envolvidos em todo o processo. Além disso, é essencial que as práticas de trabalho em silos sejam revisadas e que as tecnologias disponíveis sejam adotadas para substituir procedimentos manuais perigosos. Uma solução eficaz é a implementação de sensores para monitoramento da quantidade de produto armazenado dentro do silo, como o scanner 3D que mede volume ou sensores de medição contínua de nível, como radares e lasers que permitem o controle preciso do inventário de grãos e acaba com qualquer necessidade de trabalhadores se arrisquem ao caminhar sobre a massa de grãos. Com essa tecnologia, é possível eliminar o risco de engolfamento, preservando a vida dos trabalhadores e controlando o inventário de forma precisa.

À medida que o Brasil se desenvolveu como um dos maiores produtores agrícolas do mundo, é igualmente necessário que esse desenvolvimento seja acompanhado por avanços tecnológicos na área de segurança. Mortes que poderiam ser evitadas com o uso de tecnologia e melhores práticas não devem mais ocorrer. A implementação de tecnologias modernas para o monitoramento e manuseio dos grãos é essencial para assegurar que o progresso no campo agrícola seja sincronizado com a proteção de pessoas e processos. Alinhar inovação e segurança eleva os padrões de eficiência nas empresas, melhora os processos operacionais e reforça o compromisso com o bem-estar dos colaboradores. Cuidar das pessoas e dos processos não apenas eleva os padrões de segurança, mas também contribui para a sustentabilidade e a reputação da empresa a longo prazo.