Onde muitas pessoas erram na escolha dos equipamentos para áreas com Poeiras Combustíveis: Seleção de Temperatura

A escolha de equipamentos para áreas com poeiras combustíveis, quando se trata da temperatura, não é simples. Diferentemente da seleção de equipamentos para ambientes com gases combustíveis, que é mais direta (basta verificar na etiqueta se a temperatura está abaixo do necessário para a ignição do gás presente), com poeiras combustíveis, o cuidado deve ser maior.
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A escolha de equipamentos para áreas com poeiras combustíveis, quando se trata da temperatura, não é simples. Diferentemente da seleção de equipamentos para ambientes com gases combustíveis, que é mais direta (basta verificar na etiqueta se a temperatura está abaixo do necessário para a ignição do gás presente), com poeiras combustíveis, o cuidado deve ser maior.

É essencial saber a temperatura de ignição da poeira que você está lidando. Tenha atenção ao utilizar valores de tabelas de referência, pois podem não ser específicos para sua situação.

Quando há poeira, é necessário avaliar os casos e realizar cálculos. Esse cuidado extra é indispensável para prevenir riscos e garantir a segurança do local e das pessoas.

1. Nuvens de Poeira – Limitações de Temperatura

Os equipamentos com proteção “Ex” devem ser escolhidos de forma que sua temperatura máxima de superfície fique dentro dos limites definidos pela Norma ABNT NBR IEC 60079-14. Esses limites levam em consideração a temperatura de ignição da poeira combustível no ambiente onde os equipamentos serão instalados.

No caso de equipamentos “Ex t”, testados sem a presença de camada de poeira, conforme o método descrito na ABNT NBR IEC 60079-0, a temperatura máxima de sua superfície deve ser, no máximo, dois terços da temperatura mínima de ignição da mistura de poeira com o ar.

Exemplo:
Se a poeira combustível em forma de nuvem tiver uma temperatura de ignição de 210°C, o limite máximo permitido para a superfície do equipamento “Ex” será de 140°C.

2. Camadas de Poeira (5 mm) – Limitações de Temperatura

Quando o equipamento não informa a espessura da camada de poeira na sua marcação de temperatura “T”, é necessário aplicar um fator de segurança. Nesses casos, é fundamental considerar o impacto que a espessura da camada de poeira pode ter no equipamento, conforme as orientações abaixo:

Para camadas de poeira combustível com até 5 mm de espessura, a temperatura máxima da superfície do equipamento, testada conforme o método da ABNT NBR IEC 60079-0 sem poeira, deve ser pelo menos 75°C menor que a temperatura mínima de ignição dessa camada.

Exemplo:
Se a temperatura de ignição da camada de 5 mm for 250°C, o limite máximo da superfície do equipamento será 175°C.

3. Selecionando o Equipamento – Limitações de Temperatura

A escolha deve considerar sempre o valor mais restritivo.

Exemplo:
Se a poeira tem temperatura de ignição em nuvem de 400°C (o equipamento só poderia aquecer até 266°C) e em camada de 5 mm entra em ignição a 250°C (o equipamento só poderia aquecer até 175°C), é necessário optar por um equipamento com temperatura máxima menor que 175°C.

4. Importância da Limpeza Regular

O acúmulo de poeira pode gerar “brasas”, criando fontes de ignição e aumentando os riscos de explosão. Além disso, poeiras acumuladas podem ser levantadas, servindo de combustível para explosões secundárias.

Níveis de Limpeza:

  • Bom: Poeira acumulada praticamente inexistente, reduzindo significativamente o risco de explosões.
  • Regular: Poeira acumulada é removida em pouco tempo, antes que possa gerar riscos.
  • Pobre: Poeira permanece acumulada por longos períodos, aumentando os riscos de explosões e propagação de acidentes.

Evitar práticas de manutenção inadequadas e o acúmulo de poeira é crucial para garantir a segurança em todas as operações.

Fato Interessante:
Você sabia que a maioria das poeiras combustíveis tem uma temperatura de ignição em camada de 5 mm menor do que em nuvem?
Porém, há exceções, como no caso do açúcar e do enxofre.

É bom lembrar que definir a classe de temperatura não é tão simples assim. É preciso analisar bem a poeira e o ambiente em questão. Cada tipo de poeira tem uma temperatura de ignição diferente, dependendo se está em nuvem ou em camada — e fatores como espessura e isolamento térmico também contam muito. Enquanto a ABNT trabalha com o limite de 5 mm para camadas de poeira, algumas normas estaduais, como as dos Bombeiros, reduzem esse valor para apenas 0,8 mm em superfícies horizontais. Isso mostra como não existe uma tabela pronta para seguir, com os valores exatos para o seu caso. As temperaturas recomendadas para os equipamentos são só uma referência inicial. Elas vêm de tabelas e gráficos, mas precisam ser ajustadas com base na rotina de limpeza, nas condições do ambiente e em outros detalhes do dia a dia. No fim das contas, esses ajustes fazem toda a diferença para manter o lugar seguro e evitar riscos de explosão.

Outros pontos que merecem atenção!

É fundamental atentar para a correta especificação do GRUPO de poeiras combustíveis (IIIA, IIIB ou IIIC). Além disso, o EPL (Equipment Protection Level) deve ser definido — Da, Db ou Dc — de acordo com a classificação de áreas do local onde os equipamentos serão instalados (Zona 20, 21 ou 22).

Quanto aos tipos de proteção “Ex” que podem ser utilizados, destacam-se:

  • Intrinsecamente seguros (Ex “i”),
  • Encapsulamento (Ex “m”),
  • Proteção por invólucro (Ex “t”),
  • Invólucros pressurizados (Ex “p”).

OBS: O tipo de proteção Ex “d” (à prova de explosão) NÃO É indicado para áreas classificadas com poeiras combustíveis, sendo apropriado apenas para atmosferas contendo gases inflamáveis.

Para garantir uma instalação segura e adequada, é altamente recomendável consultar a Norma Técnica Brasileira ABNT NBR IEC 60079-14, que oferece diretrizes completas sobre o projeto, a seleção de equipamentos e a montagem de instalações em atmosferas explosivas, além de orientações detalhadas para inspeções iniciais.

*Agradecemos a contribuição de Roberval Bulgarelli, consultor sobre equipamentos e instalações em atmosferas explosivas.