Gás + Poeira = Perigo: Entenda os Riscos das Misturas Híbridas

As zonas híbridas representam um dos cenários mais desafiadores quando falamos em segurança industrial. Elas ocorrem quando atmosferas explosivas de gás ou vapor inflamável coexistem com atmosferas explosivas de poeira ou fibras em um mesmo espaço, formando o que chamamos de misturas híbridas.
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As zonas híbridas representam um dos cenários mais desafiadores quando falamos em segurança industrial. Elas ocorrem quando atmosferas explosivas de gás ou vapor inflamável coexistem com atmosferas explosivas de poeira ou fibras em um mesmo espaço, formando o que chamamos de misturas híbridas. Esse tipo de ambiente traz riscos que vão além da soma dos componentes isolados, tornando a avaliação de segurança ainda mais crítica.

O que são zonas híbridas e onde podem ser encontradas?

Zonas híbridas são ambientes industriais onde diferentes tipos de substâncias inflamáveis coexistem e interagem. Esses locais são comuns em:

  • Esmagadoras de grãos: Durante o processamento, poeiras finas podem se misturar com gases emitidos pela decomposição de matéria orgânica.
  • Minas de carvão: Poeiras de carvão, combinadas com gases inflamáveis, como metano, criam um ambiente altamente explosivo.
  • Secadores por pulverização: Utilizados para transformar líquidos em pó, podem gerar poeiras inflamáveis em presença de vapores aquecidos.
  • Indústria farmacêutica: A mistura de diferentes substâncias químicas inflamáveis eleva o risco de explosões em laboratórios e áreas de produção.

Nesses locais, os riscos não são apenas elevados — são exponenciais. Mesmo concentrações de poeira e gás abaixo dos limites de explosividade podem, em conjunto, criar atmosferas extremamente perigosas.

Quais os riscos das Misturas híbridas? 

Misturas híbridas podem exibir comportamentos distintos em relação aos seus componentes isolados. Segundo o Anexo C da ABNT NBR IEC 60079-10-2, uma pequena quantidade de gás inflamável adicionada a poeiras combustíveis pode tornar a mistura muito mais explosiva. Por exemplo:

  • Explosão amplificada: Poeiras que sozinhas não inflamam facilmente podem se tornar extremamente explosivas em combinação com gases inflamáveis.
  • Reações químicas: A interação entre poeiras e gases pode gerar novos compostos, potencializando o risco.
  • Limites de concentração: Uma mistura híbrida pode formar uma atmosfera explosiva fora dos limites explosivos individuais do gás/vapor ou das concentrações explosivas do pó. Recomenda-se, salvo se houver dados mais detalhados disponíveis, que uma mistura híbrida seja considerada explosiva se a concentração de gás/vapor exceder 25% do LII (Limite Inferior de Inflamabilidade) ou se a concentração do pó exceder 25% do MEC (Concentração Mínima Explosiva).
  • Reações químicas internas: Também devem ser levadas em consideração as reações químicas que podem ocorrer dentro dos materiais ou gases aprisionados no pó, que podem resultar na liberação de gás durante o processo.
  • Limites de energia/temperatura: Quando há uma mistura híbrida, os parâmetros mínimos de ignição, como a EMI (Energia Mínima de Ignição) e a temperatura de autoignição do gás/vapor ou a temperatura mínima de ignição de uma nuvem de pó, podem ser menores do que os parâmetros de qualquer componente individual da mistura. Na ausência de outras informações, deve-se utilizar o parâmetro mais baixo entre os componentes da mistura.

Isso significa que ambientes normalmente considerados seguros podem, em condições específicas, tornar-se verdadeiras armadilhas na indústria.

O Que é importante Avaliar? 

A correta avaliação de zonas híbridas é fundamental para evitar acidentes graves. Alguns fatores a serem considerados incluem:

  • Fontes de ignição: Controle rigoroso de faíscas, arcos elétricos e aumento de temperatura em equipamentos.
  • Coexistência de substâncias: Verifique se gases e poeiras realmente coexistem no ambiente e identifique onde e com que frequência isso ocorre.
  • Classificação de área: Realize estudos detalhados para identificar os locais com misturas híbridas, os limites de explosividade e os cenários possíveis.
  • Ventilação: Embora possa reduzir o risco de gases inflamáveis, a ventilação mal projetada pode aumentar a dispersão de poeiras combustíveis.

Quais as Estratégias de prevenção ?

A prevenção começa pelo conhecimento detalhado das substâncias envolvidas. Algumas medidas indispensáveis incluem:

  • Controle de fontes de ignição: É indispensável monitorar continuamente todas as possíveis fontes de ignição, como faíscas, arcos elétricos ou superaquecimento.
  • Equipamentos certificados: Garanta que sensores e outros dispositivos tenham dupla certificação, atendendo tanto a gases quanto a poeiras.
  • Cenário de Pior Caso: De acordo com a norma, em ambientes com misturas híbridas, é recomendável adotar o cenário de risco mais crítico para qualquer um dos componentes envolvidos. Por exemplo, em uma área classificada como Zona 21 com Zona 2, deve-se considerar a classificação mais severa, tratando-a como Zona 21 combinada com Zona 1.

Segurança Começa com a Escolha Certa

Zonas híbridas exigem atenção redobrada e estratégias bem planejadas para mitigar os riscos associados às misturas explosivas de gases e poeiras. A segurança nesses ambientes desafiadores depende de conhecimento especializado e das ferramentas adequadas.

Uma das principais medidas para garantir a segurança é a escolha de equipamentos certificados, capazes de operar de maneira segura em atmosferas explosivas que contenham tanto gases inflamáveis quanto poeiras combustíveis. Esses dispositivos devem possuir certificação dupla, garantindo compatibilidade com os diferentes agentes presentes no ambiente.Saber escolher o equipamento certo significa garantir uma operação segura, com a certificação que realmente atende às exigências e a complexidade do seu ambiente.